6.11.09

muro.

semana que vem (exatamente no dia 09.11.2009) vai completar 20 anos da queda do muro de berlin. lembro como se tivesse sido ontem. um dos eventos que mais marcou minha infância.

meus amigos e eu, na época com 10 anos de idade –no parquinho, mesmo– discutíamos se esta união não estava sendo feita precipitadamente, se era o melhor caminho para a BRD (república federativa alemã), quais os objetivos do primeiro ministro helmut kohl, as consequências para a economia, enfim… consegue imaginar um bando de criança de 10 anos de idade discutindo política? éramos nós. a gente podia não estar compreendendo tudo o que se estivesse passando, mas tinha aquele sentimento, aquele ar de que a gente estava vivenciando algo importante, vivendo um momento histórico.

vocês só podem imaginar como é para alguém nesta idade conhecer pessoas que falam a mesma língua, pertencem, na verdade, a um só povo, mas com sotaques e hábitos tão diferentes! pessoas que não sabiam o que era mcdonald's, coca cola, talvez nunca tivessem chupado uma laranja ou sequer visto uma banana de perto… muitas pessoas comiam tanto abacaxi em suas primeiras viagens ao lado ocidental que ficavam com a boca cheia de haftas. e tudo isto não por razões de injustiça social (na época eu nem sabia o que era isto), mas por razões políticas; porque há uns 50 anos a alemanha havia perdido uma guerra.

meu melhor amigo da 4a até a entrar na 7a série havia nascido e se criado na alemanha oriental. sua família havia sido uma das milhares que fugiram da DDR antes da queda do muro, pela (então ainda) tcheco-eslováquia via viena (na áustria) para a alemanha ocidental. seria mais ou menos como tentar entrar nos estados unidos pelo méxico, sem documentos (com a significativa diferença que os irmãos da alemanha oriental eram MUITO bem recebidos com salário de desemprego, plano de saúde, moradia, etc.). embora a gente brigasse MUITO, era um grude só; onde um ia, o outro tinha de estar.

uma das coisas que mais me impressionou quando as fronteiras foram abertas, foi a atitude da alemanha ocidental de dar de presente a TODO visitante que viesse do "lado de lá" (
drüben) 200,00DM (equivalente a uns 100,00US$ na época) e de trocar o marco oriental para o ocidental (que deveria valer no mínimo dez vezes mais) 1 por 1. isso com dinheiro de imposto, dinheiro do governo. e a maioria estava de acordo com isto. mas embora o muro de berlin já tivesse caído, o muro dos preconceitos ainda continuava de pé, sendo fortificado e erigido cada vez mais alto toda vez em que o sotaque diferente ou algum hábito que nos parecia exdrúxulo era motivo de chacota; e infelizmente isto não era raro. a última vez em que fui a berlin, em 2003, pouco restava das diferenças de um lado para o outro. e o preconceito também havia diminuido significativamente. mas demorou mais de uma década, até mesmo porque os muros invisíveis são os que mais demoram a ser derrubados.

é curioso pensar que a 10.000km de onde eu morava nesta época, aqui no brasil, este mesmo evento marcou profundamente uma pessoa que eu só conheci muitos anos depois: heber schünemann. ele ficou tão impressionado que compôs a música "muro". e rapidamente esta música se tornou para ele a mais querida de todas as músicas que ele havia escrito até então, como se fosse sua "obra prima" deste período.

ele mostrou a música pra muita gente, alguns solistas e vários grupos chegaram a cantar esta canção, mas nunca ninguém a gravou. D-s a guardou até o momento em que alguém que vivera de perto o momento da história mundial que inspirara esta canção aparecesse para gravar seu primeiro cd solo,
poemas e canções.

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